domingo, 20 de maio de 2012

ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA E O ESTUDO DA PERSONALIDADE


ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA




INTRODUÇÃO

A disciplina de Teorias da personalidade tem como objetivo geral fazer conhecer aos alunos os aspectos básicos do estudo da personalidade para que seja possível identificar os principais conceitos teóricos não observáveis da personalidade, segundo as propostas de trabalho das diversas teorias existentes.
Sendo assim, sob a orientação do professor Felipe Jesuíno, assistimos ao filme “Ensaio sobre a cegueira” a fim de analisarmos a estrutura da personalidade da protagonista dentro dos conceitos que foram trabalhados em sala até o momento.

O QUE É PERSONALIDADE?

Personalidade deriva do latim - persona - que significava máscara, ou seja, aquilo que queremos parecer aos outros. Na Psicologia a Personalidade é uma organização dos vários sistemas físicos, fisiológicos, psíquicos e morais que se interligam, determinando o modo como o indivíduo se ajusta ao ambiente em que vive.
A Psicologia, dentro das diversas linhas de estudo, lançou mão deste conceito associando-o a uma série de outros que também eram utilizados para definir as particularidades da individualidade tais como caráter, índole (feitio) e temperamento.
Diante do que observamos e estudamos a personalidade é um elemento relativamente estável na conduta da pessoa, é o que nos torna únicos, diferentes de todos. A personalidade diz respeito a características pessoais e que suportam uma coerência interna. Sempre que nos referimos à personalidade referimo-nos aos sentimentos, emoções, pensamentos, atitudes, comportamentos, motivações, tomadas de decisões, projetos de vida, etc. Ela permite que nos reconheçamos e que sejamos reconhecidos pelos outros, representa uma fidelidade, uma continuidade de formas de estar e de ser.
No meu entendimento a personalidade é um conceito amplo e que permite uma multiplicidade de definições, tornando difícil construir uma só definição.
Um aspecto ficou claro para mim, a personalidade é uma construção pessoal que se faz ao longo da nossa vida, e uma elaboração da nossa história, da forma que sentimos e interiorizamos as nossas experiências, e com certeza acompanha e reflete a maturação psicológica.
Diante da construção da personalidade podemos afirmar que cada indivíduo tem sua história pessoal e esta é a unidade básica a ser levada em conta no estudo da personalidade.

ESTRUTURA DA PERSONALIDADE

Podemos identificar na personalidade os seguintes elementos:
- Traço – com base na bibliografia fornecida pelo professor,traço refere-se a consistência  da resposta individual a uma variedade de situações. É algo consistente e presente com muita frequência nas resposta do indivíduo.
- Hábito – são respostas que se repetem e que podem se tornar traços
- Tipo – corresponde ao conjunto de traços diferentes. O tipo apresenta-se de modo mais regular e generalizado.

Ao se estudar personalidade é necessário compreender o que um traço de personalidade. O traço é um aspecto do comportamento duradouro da pessoa, por exemplo: é a tendência de uma pessoa à sociabilidade ou ao isolamento; à desconfiança ou à confiança nos outros. Vejamos uma situação: o ato de lavar as mãos é um hábito, a higiene é um traço, pois implica em manter-se limpo regularmente escovando os dentes, tomando banho, trocando as roupas, etc. Pode-se dizer que a higiene é um traço da personalidade de uma pessoa depois que os hábitos de limpeza se arraigaram. O comportamento final de uma pessoa é o resultado de todos os seus traços de personalidade. Entendo que, o que diferencia uma pessoa da outra é a amplitude e intensidade com que cada traço é vivido.


O FILME




“ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA” conta a história de uma inédita epidemia de cegueira, inexplicável, que se abate sobre uma cidade não identificada. Tal "cegueira branca" - assim chamada, pois as pessoas infectadas passam a ver apenas uma superfície leitosa - manifesta-se primeiramente em um homem no trânsito e, lentamente, espalha-se pelo país. Aos poucos, todos acabam cegos e reduzidos a meros seres lutando por suas necessidades básicas, expondo seus instintos primários. À medida que os afetados pela epidemia são colocados em quarentena e os serviços do Estado começam a falhar, a trama segue a mulher de um médico, a única pessoa que não é afetada pela doença.
No livro que deu origem ao filme, o escritor português José Saramago, assim como no “A Caverna” quis destacar o fato de que todos nós estamos enclausurados nas cavernas da indiferença, do individualismo, da insensibilidade e assim de tudo da capacidade de ver alem dos olhos, de ver interiormente. Penso que este é o primeiro aspecto a se analisar no filme em estudo. A sociedade entra em colapso, os valores se perdem, a civilidade se vai.
A perda de visão ocular faz com que as pessoas me marginalizem, mas um grupo de internos tenta se organizar utilizando o bom senso, priorizando necessidades, princípios básicos de organização, e de solidariedade, o que não foi suficiente dentro do contexto.
O mais forte do filme são os mundos emocionais destacados através dos personagens principais. Ficou muito bem evidenciado a partir do caos que se instalou, que muito mais do que olhar, o que importa de verdade é enxergar o outro. Só dessa forma o homem poderá se humanizar novamente.

A ESPOSA DO OFTALMOLOGISTA – INTERPRETADA POR JULIANNE MOORE

Como já foi mencionado, o filme se desenrola em um abrigo do governo improvisado para as pessoas que ficaram cegas. Entre essas pessoas está uma mulher que não cega, a esposa do médico oftalmologista que fora encaminhado para o abrigo por ter desenvolvido a cegueira. Ela decide acompanhá-lo, fingindo-se de cega.
Chegando ao abrigo ela a princípio orienta e ajuda o marido, mas logo depois com a chegada de muitos outros cegos, ela passa a interferir diretamente na vida de todos de seu alojamento com orientações e ajuda básica de higiene, limpeza, alimentação e diálogo sem que eles saibam que ela tem a visão normal. Ao longo dos dias ela vivencia momentos de fome, dor, constrangimento, humilhação, violência física, sexual e moral.
A vida nesse abrigo torna-se uma catástrofe, uma situação sub humana se alastra em todos os lugares, no entanto ela suporta todo o sofrimento com altivez e lucidez.
Como podemos descrever a personalidade dessa mulher?
Alguns traços marcantes:
- Decidida e corajosa – quando toma a decisão de ir com o marido para o abrigo, quando se torna uma líder natural do grupo, quando decide matar o homem que a violentou sexualmente, quando assume a responsabilidade dos sete cegos restantes do seu grupo levando-os para sua casa.
- Obstinada – quando apesar de todos os medos ela continua a lutar pela sobrevivência dos companheiros.
- Companheira – ajudando a todos se maneira carinhosa e solidária
- Altiva – uma líder nata, com poder de decisão. Quando lidera o grupo para buscar alimento enfrentando os homens da outra ala e consegue sair do abrigo. Quando enfrenta saqueadores no supermercado, entre outras cenas.

Dentro do conceito de tipo, destaco a personagem em questão, como tendo uma personalidade do tipo guerreira. Em muitos momentos, em diversas situações foi possível identificar os traços de sua personalidade que conjugam para esse tipo.
Quanto ao estudo da personalidade os psicólogos empregam três categorias principais de conceitos motivacionais, sendo assim, observando a personalidade da esposa do médico podemos identificar:

- Motivos de prazer: a satisfação em cuidar do esposo, por isso ela o acompanhou ao abrigo. O companheirismo existente na relação entre ambos. A natureza dessa mulher como líder que é produz em si um prazer ao cuidar do outro.

- Motivos de crescimento: não percebi nas questões existências que afloram no abrigo, uma forma consciente de busca de crescimento pessoal. Mas é claro para mim que após uma experiência profunda como aquela é de se esperar que ela reformule seus valores e referenciais de vida.

- Motivos cognitivos: a situação na qual todos se encontravam era de dor e sacrifícios. Não fora uma experiência opcional, e sim uma tragédia na qual todos foram submetidos forçosamente. Na verdade observou-se uma degeneração dos valores humanos, uma não aplicação de tudo que fora aprendido na escola, na infância, com a família. Percebe-seno desenrolar das cenas que o arcabouço de informações cognitivas e emocionais naquelas pessoas não fora suficiente para suportar aquela dor. Muitos degeneraram, caíram no submundo da prostituição, da violência, da corrupção, da desonestidade.

Nesse contexto, perguntamos: por que ela, a esposa do médico não sucumbiu?
- Iniciemos com a motivação, a busca pela diminuição da dor.
Ela lutou incansavelmente pela sobrevivência dos companheiros, assim como pela melhoria da qualidade de vida naquele local. Penso que lutar pela sobrevivência a empurrou para frente, a sustentou durante todo o tempo. A esperança de melhoria ou de cura parece está implícita nas atitudes dela. percebe – se uma maior habilidade ao lidar com o ambiente,destacando-se o domínio sobre o mesmo.
- Partindo da divisão tradicional dos determinantes da personalidade, genéticos e ambientais, podemos fazer uma análise hipotética da formação da personalidade da mulher em questão.
Sabemos que os fatores genéticos determinam nossas características de maneira hereditária.  Esses fatores desempenham então um papel importantíssimo na formação biológica,psicológica e consequentemente comportamental no indivíduo. Assim a bagagem genética nos dá uma exclusividade peculiar.
A partir da leitura que fizemos com enfoque no estudo psicológico, vimos que há uma discordância no peso, na relevância que cada um dos fatores, ambientais e genéticos desempenha na determinação da personalidade. No entanto acreditamos na consonância de ambos. Assim penso que a personagem do filme possui uma bagagem genética que determinou os seus traços e tipo de personalidade ao se defrontar com as adversidades do meio.
A história de vida dessa mulher deve ter contribuído também para a formação dessa personalidade, mas esse ponto não foi evidenciado no filme, o não nos permite fazer nenhuma abordagem. A cultura tem um valor determinante na formação da personalidade. Cada cultura tem os seus próprios padrões que funcionam com referenciais institucionais de comportamento.  Assim cada grupo apresenta determinados traços de comportamento comum aos integrantes. Sabendo a cultura na qual a mulher em estudo, no filme, poderíamos esboçar um perfil de sua personalidade.
Não conhecemos a família, outro fator ambiental na qual ela foi criada, desta forma não poderemos saber a influência familiar exercida sobre a mesma. Mas sabemos que pais afetuosos, amorosos ou grosseiros e hostis, assim como superprotetores, influenciarão de forma diferente na formação dessa personalidade. Interferindo na construção da autonomia, do conceito de liberdade, nas relações interpessoais desse adulto.
Assim, podemos dizer que os fatores genéticos associados a esses últimos determinam a elaboração da personalidade de um indivíduo ao longo de sua vida. No caso da mulher, podemos discutir que ela possui um patrimônio genético que a tornou competente diante do ambiente.

Márcia Helena Sales

Nenhum comentário:

Postar um comentário